Quartetos Místicos-Poemas Sufis, de Munássir Ebrahim

8,00

Título  Quartetos Místicos – Poemas Espirituais Sufis
Autor  Munássir Ebrahim
Colecção  Ouro Potável
Formato   135 x 210 mm
Páginas   40 págs.
Acabamento   Capa mole
Ano   2022

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SOBRE A OBRA

Fruto de um longo período de ocupação árabe, a influência da língua, da cultura e da espiritualidade islâmicas está profundamente enraizada e integrada na vida do homem de grande parte da Península Ibérica, à semelhança do que acontece com as marcas de influência celta e judaica. Estas influências estão já de tal modo integradas em nós que, na maioria das vezes, nem damos pela sua actual existência e origem longínqua.
Poemas místicos sufis, estes quartetos poéticos são um modo bem singular de mostrar-nos que o Sufismo é uma herança espiritual ainda hoje viva entre nós — legado que vem de Ibn Qasi e de Al-Mu ‘Tamid, entre outros, como o grande Ibn Arabi, todos eles figuras do grande Gharb al-Andalus.
Este livro de Munássir Ebrahim é uma inesperada antecâmara para um tal depósito de raízes, memória de séculos que está não só na nossa herança genética mas também naquilo que de pai para filho, de mestre para discípulo, de boca a orelha passa de geração em geração. Como se fora um outro sangue que na alma se derrama, corre e permanece.

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SOBRE O AUTOR

Munássir Ebrahim nasceu em 1980. É jurista de formação. Licenciou-se em Direito, com pós-graduação em Ciências Jurídicas na Universidade Católica. Mestre em Direito das Empresas pelo ISCTE-INDEG Business School. Trabalhou quase duas décadas como In House Lawyer. Publicou a sua Dissertação de Mestrado, dois livros técnicos sobre Direito, com incursões na literatura infanto-juvenil. O Sufismo é a sua via espiritual.
Esta é a sua primeira incursão na poesia.

Informação adicional

Peso 100 g
Dimensões (C x L x A) 135 × 5 × 210 mm

6 avaliações de Quartetos Místicos-Poemas Sufis, de Munássir Ebrahim

  1. Miguel Matias

    Um Autor promissor cuja leitura recomendo, espero que nas suas próximas Obras Poéticas continue a surpreender desta forma. Estes Poemas belissímos merecem mais atençao e reflexao.

  2. Miguel Matias

    Estudando a influência da Civilização Muçulmana na Civilização Ocidental, apercebi-me de como a civilização ocidental recebeu, através da Occitânia, a cultura muçulmana do Al-Andaluz e a transmitiu a toda a Europa.

    O Islamismo e o gnosticismo cátaro tinham uma essência comum: para ambas as religiões existia uma separação radical entre o homem e a divindade, uma separação radical que Kierkgaard designou de “uma diferença qualitativa infinita” entre o homem e Deus.

    Esta proximidade da essência de ambas as religiões, e a proximidade geográfica entre a Occitânia e a brilhante civilização árabe do Al-Andaluz iria produzir inevitáveis consequências: as trocas comerciais foram acompanhadas de trocas culturais.

    Muito antes de Dante e de Petrarca já o Ocidente tinha uma notável produção literária, particularmente poética.

    Ora a poesia ocidental da Idade Média nasceu no Sul de França, na Occitânia, na Aquitânia e na Provença, as regiões da actual França mais próxima do Al-Andaluz. Um razoável número de occitanos, aquitanos e provençais falava e escrevia fluentemente o árabe. E foi através do contacto com os grandes poetas místicos al Hlaj, al Gazzali e Sohrawardi que os trovadores da Provença beberam o amor cortês, que é o tema essencial do seu lirismo.

    Escrevia al Hallaj:

    “ Matando-me me fareis viver, pois para mim viver é morrer e morrer é viver.”

    Conhecendo nós a tragédia cátara compreenderemos melhor o sentido histórico destas palavras. Mas compreenderemos também a origem de expressões como “morrer de amor” e da “coita de amor” dos poetas provençais. Cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de escárnio e maldizer também forma bebidas pelos poetas occitanos do lirismo árabe.

    Como bem perceberam os mais lúcidos estudiosos da poesia occitana, nomeadamente DENIS DE ROUGEMONT no seu fabuloso O AMOR E O OCIDENTE, o amor místico está subjacente á poesia trovadoresca. A amada dos poemas occitanos é Deus muito mais do que a mulher.A expressão “midous” corrente nesses poemas significa “meu senhor” e não “minha senhora”.

    Os temas da poesia occitana eram também os temas da poesia árabe: o amor, a morte, o sofrimento de amor, a contemplação da natureza, a solidão, a meditação.

    Foi uma retórica cifrada, altamente requintada nos seus processos, cheia de simbolismo e ambiguidades que os poetas místicos árabes transmitiram aos ocidentais da Occitânia.

    As própria técnicas literárias forma bebidas dos árabes. Guillaume de Poitiers, o primeiro poeta trovador, reproduziu a técnica árabe do zadjal em cinco dos seus onze poemas que nos restam. O Zdjal, forma poética dominante na Pérsia de então, é um poema curto, de entre dez a quinze estâncias, de rima única, aa,xa,xa,xa,etc.

    Outra técnica literária bebida dos árabes pelos occitanos e provençais e foi a repetição de versos, particularmente no fim de cada estância, dando à poesia uma particular musicalidade.

    E essa busca incessante da musicalidade na poesia árabe levou à adopção da rima, que foi outro dos grandes legados árabes à poesia ocidental.

    A rima já existia entre os latinos. Mas a língua latina possuía, como a grega, suficiente musicalidade para evitar o esforço da rima. Esta foi um acrescento de musicalidade que começou a ser praticada no século III, particularmente em alguns hinos católicos. Mas só no século XI ela se vulgariza no ocidente por influência da poesia árabe, que era rimada. A maior obra poética árabe, o enorme poema épico de Rumi intitulado “Mathnawi”, é toda rimada, de uma rima tão encantatória que faz tornar o poema em melodia, quando recitado, devendo o seu título ao nome de uma composição poética.

    Deu-se por volta do ano mil o esplendor da civilização árabe do Al-Andaluz. E foi por volta do ano mil que o catarismo começou a ganhar força naquilo que é a actual Catalunha, na Provença e, sobretudo, na Occitânia.

    A História tem continuidades e continuidades que é apaixonante conhecer.

    Tanto bastou para surgir em mim o desejo de visitar e conhecer, mesmo que superficialmente, a Occitânia.

  3. Maria Isabel Ribeiro

    Só para se ter uma visao da influencia Talvez fosse curioso consultarem “O Islã e a Formação da Europa, de 570 a 1215”, de David Levering Lewis, Editora Amarilys, 2010, Brasil.

  4. Elvira Fortunato Adelaide

    Poesia Sufi – Poemas Sufis

    É a poética dos adeptos do sufismo, uma filosofia de autoconhecimento mística e contemplativa muito seguida por Islâmicos, porém sem se restringir a uma religião específica. Na verdade, em muitos locais e em diferentes momentos, foi considerada ilegal e perseguida por escolas de jurisprudência islâmica. Para saber mais sobre sufismo, veja a Wikipedia. Os sufistas tentam manter um contato direto e contínuo com Deus (ou com o sagrado). Também tendem a não se apegar a tradições cegamente, ou a bens terrenos, o que lembra um pouco o epicurismo. Há muita semelhança com algumas teorias de Osho e também do Budismo.

  5. Tita Palma

    Gostei do livro de poemas e fui ler online ( Comprei online Os Sufis e a Espiritualidade dos Jardineiros de Deus, Ediçoes Hórus 2023) outro livro deste mesmo autor, que cita em Antologia do Sufismo, um trabalho académico que este mesmo autor escreve e cito: A totalidade da vida não será compreendida, afiança o ensinamento sufi, se for estudada apenas pelos métodos que utilizamos na vida quotidiana. Isso, em parte, porque, embora se possa perguntar: “A que vem tudo isso?” Numa sequência nominalmente razoável de palavras, a resposta não se expressa de maneira semelhante, pois vem através da experiência e da iluminação.
    Um instrumento capaz de avaliar uma coisa pequena não pode,necessariamente, avaliar uma grande.
    “Ponha em prática o seu conhecimento, pois o conhecimento sem a prática é um corpo sem vida”, diz Imam Abu Hanifa.
    Um cientista lhe dirá que o espaço e o tempo a mesma coisa, ou que a matéria não é sólida, e talvez seja capaz de prová-lo pelos seus próprios métodos. Isso, contudo, fará pouca diferença para o seu entendimento, e nenhuma para a sua experiência do que tudo
    isso envolve.
    Digamos que a matéria seja infinitamente divisível. Para os propósitos práticos, no entanto, há um limite para o número de divisões que podemos fazer de um pedaço de chocolate, se quisermos que as ditas divisões funcionem como esperamos que funcione
    Assim sendo, de um lado podemos estar a olhar para um pedaço de chocolate, de outro para um objeto que queremos dividir no maior número possível de pedaços. A mente humana tende a generalizar a partir de uma evidência parcial. Os sufis acreditam que podem experimentar algo mais completo.
    A pessoa comum desejosa de informar-se a respeito do pensamento sufi procurará, normalmente, os livros de consulta. Poderá procurar a palavra “sufi” numa enciclopédia
    ou recorrerá a livros escritos por eruditos de vários gêneros, entendidos emreligião e em Espiritualidade.
    Se assim fizer, encontrará um exemplo admirável da mentalidade do “elefanteno escuro”.
    De acordo com um estudioso persa, o sufismo é uma aberração cristã. Segundoum lente
    de Oxford, ele sofreu a influência do Vedanta hindu. Um professor árabeamericano dirá que se trata de uma reação contra o intelectualismo islâmico. Um mestre de literatura semítica afirmará haver encontrado nele traços do xamanismo da Ásia Central. Para um
    alemão, ele cheira a budismo acrescentado ao cristianismo. Dois excelentes orientalistas
    ingleses acharam nele vigorosa influência neoplatônica; um deles, todavia, concederá que talvez tenha sido gerado independentemente. Um árabe, publicando as suas opiniões através de uma universidade americana, assegura aos leitores que o neoplatonismo (que invoca como ingrediente sufi) provém dogrego e do persa. Um dos maiores arabistas espanhóis, ao mesmo tempo que proclama uma iniciação do monasticismo cristão, indica o maniqueísmo como fonte sufi. Outro académico de não menor reputação encontra o
    gnosticismo entre os sufis; ao passo que o professor inglês que traduziu umlivro sufi
    prefere pensar nele como “numa seitazinha persa”. Mas outro tradutor descobre a tradição mística dos sufis “no próprio Corão”. “Conquanto as numerosas definições do sufismo, que figuram nos livros árabes e persas sobre o assunto, sejam historicamente interessantes, a sua principal importância reside em mostrar que o sufismo é indefinível. Uma resenha paquistanesa de Rûmî (1207-1273) considera-o herdeiro virtual de todas as grandes correntes do pensamento antigo representadas no Oriente Próximo.
    Os que estiveram em contacto real com os sufis e assistiram às suas reuniões, não precisam de nenhum ajustamento mental nem de um esforço da vontadepara achar que o
    sufismo contém as miríades de fios que aparecem em sistemas não-sufistas como o
    gnosticismo, o neoplatonismo, o aristotelismo, etc. “Ondas inumeráveis, que beijam a
    terra e refletem momentaneamente o sol — todas do mesmo mar”, o mestre Halki. Por outro lado, a mente treinada para acreditar na individualidade ou no monopólio de ideias de certas escolas não será facilmente capaz de trazer esse entendimento sintetizador à
    contemplação do sufismo.
    A literatura mundial sobre o sufismo é ampla — grande número de textos sufi foi traduzido por eruditos ocidentais. Poucos tiveram a vantagem, se é que a teve algum, de experimentar o sufismo, ou de conhecer-lhe a história oral, ou mesmo a ordem em que é estudado o seu material formal. Isso não significa que os seus trabalhos não tenham muito
    valor. Foram utilíssimos ao orientalista, mas podem propender para a incoerência. Como o escriba lendário que tinha de acompanhar a carta que escrevera e lê-la pessoalmente.

  6. Maria Helena Filomena

    Houve este evento recentemente, recebi via telegrama.
    28 de marzo de 2023 por Guilherme d’Oliveira Martins
    “O Poder da Palavra” é um projeto do Museu Calouste Gulbenkian que visa valorizar a Arte do Livro e outros objetos da coleção do Médio Oriente, com o objetivo de abrir novas perspetivas e criar interpretações contemporâneas, que afirmem a importância essencial do património cultural imaterial. Já na quarta edição, Jessica Hallett e Fabrizio Boscaglia animaram a invocação da festividade do Noruz, o início do ano persa, no equinócio da Primavera. A partir do caminho da espiritualidade sufi, é um conjunto de iniciativas centradas no Museu sob o título Sabedoria Divina – o caminho dos sufis até 2 de outubro de 2023, que salienta a importância de um verdadeiro diálogo entre culturas. A noção moderna do património cultural, como o Conselho da Europa definiu salienta na Convenção de Faro, corresponde a essa ideia dinâmica, em que o passado e o presente são fatores de enriquecimento e respeito mútuo, de criatividade e de paz.
    A música, a dança, a poesia, a caligrafia são expressões da Beleza e Majestade Divinas. Assim, os poemas de amor sufi referem-se ao copo e ao vinho, como metáforas da complementaridade entre as práticas religiosas exteriores (copo) e do êxtase espiritual interior (vinho). O sufi encontra, assim, a Beleza em tudo, quando o ego se encontra pacificado e o coração é espelho polido que reflete a Luz Divina. Tudo ao nosso redor é uma manifestação Divina, do Uno, indescritível e intangível, inefável e belo, majestoso e misericordioso. Não podemos esquecer na cultura portuguesa a Arrábida, como topónimo de reminiscência sufi, no santuário mediterrânico da península de Setúbal, bem ligado à etimologia da palavra árabe, que significa ligação espiritual entre o mestre e o discípulo, e na nossa cultura e língua invoca grandes poetas como Frei Agostinho da Cruz ou Sebastião da Gama. E o certo é que essa ligação espiritual se estende às referências a ermidas e comunidades, com uma forte influência sufi. E invocamos o poema do mestre sufi Ibn “Arabi (1165-1240), incluído em “O Intérprete dos Sonhos”, cujas palavras transmitem a mensagem universal do sufismo, como caminho espiritual praticado de modo aberto pelos muçulmanos, centrado em cinco temas chave: Sabedoria, Unidade, Amor, Caminho e Plenitude.
    Leia-se o poema e compreenda-se essa rica ligação. “O meu coração tornou-se capaz de acolher todas as formas: / É pasto para gazelas e mosteiro para monges cristãos, / É templo para ídolos e Caaba para o peregrino muçulmano, / É tábuas da Torá e livro do Sagrado Alcorão. / Eu sigo a religião do Amor, qualquer que seja a direção / Que a sua caravana possa tomar. / Esta é a minha religião e a minha fé. Para o sufismo, a proximidade e a procura de intimidade com Deus são ideia-chave. Não por acaso, os primeiros sufis foram chamados como «a gente da varanda (ṣuffah)», por reunirem inicialmente em Medina, sob uma varanda anexa à mesquita de Maomé. Desde então, os grandes sufis como Rābiʿa (718-801) e Rūmī (1207-1273) passaram a ser designados como amigos íntimos de Deus.
    Ao invocar o diálogo de culturas e a riqueza da tradição sufi, ouvimos na língua original e em português a grande poesia árabe, e agradecemos a Adalberto Alves o seu trabalho continuado para o estudo dessa presença entre nós, num país cuja cultura e língua se contruíram num cadinho, onde os movimentos norte-sul e sul-norte se encontram e são comuns as referências aos vestígios das comunidades sufis, nas azóias (recantos de recolhimento), arrábidas e morabitos. E numa tarde mágica do início da Primavera pudemos entender como os poetas de Al-Garb do Al Andaluz continuam connosco com as suas palavras e, por isso, sentimos familiaridade quando ouvimos Ruy Belo a dizer “A primavera é o meu país / saio à rua sento-me no chão / e abro os braços e deixo raiz / e dá flores até a minha mão…” ou Antero de Quental a lembrar “Que beleza mortal se te assemelha,
    Ó sonhada visão d”esta alma ardente…”.
    Administrador executivo
    da Fundação Calouste Gulbenkian

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